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Assinalar os 650 anos da morte de Inês de Castro significa evocar um dos momentos altos da cultura portuguesa, um daqueles raros momentos que perduram e, nessa medida, concentram em si todas as épocas e todos os lugares. Inês de Castro representa um caso paradigmático. Assente em um fundo histórico bem delimitado, o qual, já de si, continha todo um enredo de conspirações e intrigas e um final trágico de elevada repercussão política, sentimental e estética, a «bela Inês», que veio depois a figurar como um ícone na cultura portuguesa e na cultura universal é, sobretudo, um operador que articula no BNP | Edições| BNP | Ediçõesdo imaginário toda uma série de paixões e forças, presentes em qualquer comunidade mas raramente integradas numa trama com sentido. A Biblioteca Nacional, enquanto lugar destinado a preservar a memória escrita, não poderia alhear-se da efeméride nem deixar de associar-se a outras entidades que, em boa hora, meteram ombros à honrosa e meritória tarefa de lembrar, através das narrativas históricas e da arte associada à figura de Inês, a profundidade inesgotável de um mito que ecoa em manifestações tão sublimes e diversificadas como a dramaturgia de António Ferreira ou António Patrício, à épica de Camões, a lírica de Ruy Belo e tantas outras, na arte portuguesa como na arte de vários outros povos.